sábado, 30 de julho de 2011

Depoimento de Uma Mulher Negra dos Acontecimentos do Cotidiano.

A mulher negra, por receber preconceito, pela sua etnia, sofre também por sua “condição sexual”, por isso, ela é duplamente atingida pelo preconceito. “Já ouvir de pai de família, Homens dizendo: Não gosto de negro, mas de uma negrinha! Sou louco por uma”.  É uma forma de preconceito e exploração sexual muito explícita. E não nos damos conta disso, fica como uma brincadeirinha.
A questão do respeito precisa começar na base, isto é, na família e, também na escola. A criança precisa crescer sabendo respeitar as particularidades de cada cidadão independente de sua cor, raça, religião, opção sexual, política, etc.
Devemos fazer esse trabalho de conscientização de nossa sociedade no sentido de pregar contra toda e qualquer iniciativa racista. Acreditando que futuramente possamos encontrar em nossa sociedade, pessoas capazes de lutar por direitos iguais. Às vezes fazendo valer as ações afirmativas, E que possam  angariar políticas públicas, que seja por Movimentos Sociais ou outras organizações, que lutam pelos seus reconhecimentos. Visto que na unidade estudada, ficou também claro que existe um “Brasil negro” e um “Brasil branco”. Mas que, mediante a situação política que temos hoje, setores públicos ou empresas particulares independente de cor ou raça, o que vale mesmo é o (“Q I”).
Referência: Depoimento da senhora J.R.C.
MISSA NA CATEDRAL EM SÃO MATEUS ES.
Realizada MISSA no dia 27/07/2011, em São Mateus as 20H, na Catedral, com os Padres e Bispos negros com participação de membros do Instituto Mariama, com representes de vários lugares do Brasil. Em especial, temos fazendo parte dessa organização o BISPO DON ZANONI, da diocese de São Mateus, onde foi realizada a Assembléia. E também os grupos Quilombolas da comunidade de São Jorge, Comunidade São Domingos e Comunidade do Espírito Santo do município de São Mateus e Conceição da Barra. Onde puderam fazer vistas as entidades e grupos presente no município e região e parabenizou a organização dos Quilombolas e questionando as políticas públicas, municipal e estadual para a classe menos favorecida.
O presidente do IMA destacou também suas expectativas e quais os objetivos da Assembléia. “Esperamos que a Assembléia seja um evento fraterno, como tem sido feito nas últimas. Crescer na espiritualidade, na missão presbiteral, trabalhar para os padres serem homens consagrados no serviço de Deus, homens que se comprometem com a transformação da realidade a partir do anúncio do evangelho que nos motiva a estarmos com nossos olhos abertos à realidade da comunidade negra no Brasil. Esses são os maiores objetivos do evento”, enumerou padre Guanair.
Os participantes da Assembléia são padres e diáconos negros do Brasil. O evento é aberto também às pessoas que se comprometem à causa da vida que, segundo padre Guanair, é a causa do negro do Brasil. “É um encontro aberto onde trabalharemos a formação permanente do clero”, completou.
Questionado sobre o aumento do número de bispos negros no Brasil, o presidente do IMA disse que vem aumentando de modo considerável, mas ressaltou que a questão vocacional deve ser mais trabalhada nas bases para que esse número seja ainda maior. “É verdade que houve um crescimento no número de bispos negros no Brasil, mas acredito que é preciso ter mais bispos negros. São poucos ainda. Os padres negros também são muito poucos. É preciso fortalecer a dinâmica da pastoral vocacional para que os jovens cresçam e que aumente futuramente o número de bispos negros no Brasil”.





ASSOCIAÇÃO DE BISPOS

A Associação de Bispos, Presbíteros, e Diáconos Negros, e se constitui como sociedade civil de direito privado, de âmbito nacional, de fins não econômicos e sem vínculos político-partidários, com prazo de duração indeterminado, será regida pelo presente Estatuto, pelo Código Civil Brasileiro e pelas disposições legais e regulamentares aplicáveis.
- São seus objetivos:
I – Organizar, apoiar e incentivar a realização de eventos com o propósito de formação e fortalecimentos nos compromissos de negritude, tais como: Congressos, Fóruns, Seminários, e outros que proporcionem a articulação dos Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros, com sentimento de pertença, em uma proposta aberta, com outros presbíteros solidários à causa do povo afro descendente.
II – Contribuir com o intercâmbio entre as diversas regiões do Brasil; com Países do Continente Africano; do Continente Americano e outros, visando um maior conhecimento e conseqüente participação das pessoas no processo de superação das desigualdades raciais e sociais e da marginalização sociocultural religiosa da população afro descendente;
III – Colaborar com a formação dos agentes de pastoral negros, em especial dos bispos, presbíteros e diáconos negros católicos do Brasil para que sejam solidários possam estar presentes em meio à população mais fragilizada, contribuindo para a formação integral de crianças, jovens e adultos;
IV – Fomentar o convívio religioso, colaborando para a promoção da igualdade, superando os preconceitos, particularmente em relação às expressões religiosas de origem africana, visando uma convivência fraterna.
V – Acompanhar, assistir e encaminhar junto aos órgãos e instituições competentes, pessoas que por motivo de sua negritude sejam discriminadas, para que se torne realidade o disposto nos art. 1º e 5º da Constituição Federal e que sejam apenados aqueles que a descumprirem.
VI – Promover estudos e publicações de caráter informativo, formativo e científico;
VII - Prioritariamente voltado para o desenvolvimento e formação de Bispos, presbíteros e diáconos negros, o IMA, não admitirá em suas atividades e promoções a discriminação de raça, gênero, cor, sexo, nacionalidade, nível socio-político-econômico, concepção filosófica ou religiosa.
Postado por INSTITUTO MARIAMA 

Conceitos sobre Políticas Públicas e Promoção da Igualdade


Conceitos sobre Políticas Públicas e Promoção da Igualdade


Políticas públicas:
Políticas Públicas – São ações, decisões, caminhos que o Governo e Estado encontraram em resposta a violação de direitos sociais da sociedade garantidos em lei.

Estado:
Quando tratamos de Estado, nos referimos às unidades políticas (municípios, estados, nações), que se apresentam sob a forma de repúblicas e/ou democracia, de como o poder é exercida e quem exerce o poder.
O Estado pode ser alterado transformando democracias em ditaduras, ditaduras em democracias ou por constituições.

Governo:
Governo é entendido, como a organização, que é autoridade administrativa ou gestora de uma unidade política. Assim sendo governo não se confunde com Estado.
 Os governos podem ser alterados a cada nova eleição ou por meio de impeachment. No Brasil temos a de cultivar seus próprios valores.

Democracia Republicana:
 Diz em lei ser onde todos têm igualmente, direito de cultivar seus próprios valores e modos de vida. Desde que isso não importe em subordinar ou oprimir outros grupos e pessoas (Comparato,1993).É o regime que mais garante e promove os direitos humanos.

. Advocacy:
 Envolve ações de apoio e fortalecimento de grupos vulneráveis para que seus membros tenham acesso a informações, conheçam seus direitos, desenvolvam algumas habilidades e uma visão crítica da realidade.

Accountability: 
Expressa o controle do poder político. Que se concretiza por meio do voto e da burocracia. Também exercido por meio da mútua vigilância entre os poderes executivo, legislativo e judiciário.


 Políticas Públicas Intersetoriais:

 É a articulação entre setores de diferentes conhecimentos; como: Político, técnico, administrativo etc. Em diferentes áreas; saúde, educação, meio ambiente, assistência social e planejamento etc. na busca do alcance de objetivos comuns, assim possibilitando alcançar resultados mais eficazes, efetivos e eficientes.

Políticas de Governo: 
São Formulações e Implementações por políticas determinadas na agenda política interna (de governo) ficando na competência dos ministérios setoriais.

Políticas de Estado:
É a execução da política, com mecanismos da burocracia, que envolve recursos, análise da política com a realidade envolvendo mudanças nas normas já existentes na sociedade.

Avaliação e Monitoramento:
Ferramenta de controle social que permite com que a sociedade avalie os indicadores sociais de determinadas políticas, buscando a viabilidade em sua existência através da eficácia, eficiência e efetividade, reconhecendo se são políticas horizontais ou verticais o que permite monitorá-la conforme a realidade.

 Sociedade Civil:
São ações coletivas voluntárias. Freqüentemente povoadas por organizações como instituições e grupos  de visão crítica.
Conflitos Sociais: 
É a falta de reconhecimento da sociedade dos direitos sociais, desrespeito a identidade pessoal de cada individuo, como por exemplo, a exclusão social, a violência e seus diversos tipos e entre outros conflitos.

Movimentos Sociais: 
São grupos da sociedade civil que de forma organizada lutam por conquistas de objetivos em comum.


Racismo: 
Discriminação por cor, raça ou gênero, sendo taxativas as pessoas como inferiores e sem direito a igualdade

Sexismo:
 É o conjunto de ações que privilegiam determinado gênero em detrimento de outros, ou seja é o privilégio que determinados gêneros tem sobre outros, por exemplo o homem tem muito mais privilégios na sociedade do que a mulher.
Gênero: são questões de identificação social em relação ao sexo.



Miscigenado:
 Várias raças, cores, cultura e entre ouros em um mesmo local.

Democracia Racial:
Independente de raça e gênero todos pode participar popularmente, e tomarem decisões coletivas para o desenvolvimento do país e pela garantia de igualdade.

Empoderamento: 
Tomar iniciativas para a transformação social. Ampliando suas formas de participação.

Segregação: 
É a exclusão, afastamento, separação, isolamento.

Justiça Social:
É uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e na solidariedade coletiva. Em termos de desenvolvimento, a justiça social é vista como o cruzamento entre o pilar econômico e o pilar social.


Políticas Universalistas: 
São Políticas criadas para atenderem a questões sociais de um modo geral, não levando em conta a diversidade.

Políticas Focalistas: 
São políticas criadas para atenderem a questão social em suas especificidades.

Políticas Afirmativas: 
É políticas que afirmam a existência da desigualdade, procurando apagar as marcas passadas, prevenir e atuar com a desigualdade e exclusão de raça e gênero.

Fonte: Wikipédia e dos textos disponibilizados pela plataforma do curso.

terça-feira, 26 de julho de 2011





Marcha Mundial das Mulheres!
Arquivo SOF
Marcos Aragão


Afirmaremos, por outro lado, os processos de construção de alternativas a este modelo no continente, tendo a integração dos povos como horizonte. Nossas lutas e propostas se encontrarão com movimentos sociais aliados em todo o continente no Fórum Social das Américas, também em agosto (do dia 11 ao 15), em Assunção, no Paraguai. Será um momento de fortalecer nossas articulações por um mundo com soberania dos povos e autonomia das mulheres. Acalentamos o sonho e a esperança de que a América Latina possa contribuir para avançar processos de transformação em muitos países - e esperamos que o Brasil tenha um papel efetivo nessa jornada!

Mobilização no Brasil

   No Brasil, a caminhada entre Campinas e São Paulo vai reunir mulheres de todos os estados do país. Muitas delas viajarão horas (em alguns casos, dias),a maioria de ônibus, outras de barco e avião, para participar da ação.
   Serão militantes da cidade,do campo e da floresta; negras brancas e indígenas, de diferentes gerações. Na riqueza desta diversidade, há uma identidade e objetivos comuns: o desejo de superar a injusta ordem atual que provoca violência e pobreza.

   O processo de mobilização das caminhantes começou há mais de um ano. As delegações foram formadas a partir dos comitês da Marcha nos estados, da Central Única dos Trabalhadores – CUT e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag que fazem parte da Executiva da Marcha Mundial as Mulheres, além de movimentos nacionais parceiros (como o MST e as mulheres da UNE).
   A 3ª Ação Internacional estará marcada aqui por um forte processo de auto-organização e trabalho coletivo: as militantes estão divididas em comissões de cozinha, infra-estrutura, segurança, saúde, comunicação, formação e cultura.
   Acreditamos que só a partir de nossa organização e mudança da consciência do conjunto da sociedade é que conquistaremos as mudanças com as quais sonhamos.
   “Somos mulheres e não mercadoria” é nossa palavra de ordem, que expressa a essência de nossa luta contra o patriarcado, o capitalismo, o racismo e a homofobia. A tirania do mercado se ancora nas mulheres trabalhadoras, tratadas como um produto que se adapta às exigências do mercado. Esse é o sentido da imposição
de um padrão de beleza inatingível e da eterna juventude como sinônimo de felicidade.
   Marchamos para denunciar as relações de opressão sobre as mulheres, o machismo, o racismo e o preconceito contra lésbicas. Lutamos pela descriminalização e legalização do aborto, pelo direito das mulheres decidirem sobre a sexualidade e a maternidade. Marchamos para construir um mundo onde nenhuma mulher seja tratada como objeto na indústria da pornografi a, da prostituição, do tráfico ou da publicidade.
Um mundo baseado na liberdade, igualdade, justiça, paz e solidariedade.

Pela autonomia econômica das mulheres

   Marchamos pelo reconhecimento do trabalho das mulheres e questionamos a divisão sexual do trabalho. Essas questões estão no centro do debate sobre autonomia econômica feminina.
   O desafio necessário é construir novas relações sociais e um novo modelo econômico. O modelo dominante só considera como produtivas as atividades realizadas na esfera mercantil, desconhecendo uma imensa quantidade de trabalho doméstico, de cuidados e para o auto-consumo, em sua maioria realizados por mulheres. Além disso, desvaloriza o trabalho assalariado das mulheres, sobretudo o das negras, perpetuando diferenças salariais entre homens e mulheres, e entre brancas e negras.
   A divisão sexual do trabalho, que impõe às mulheres as responsabilidades pelo cuidado com as crianças, idosos e doentes, continua mantendo e aprofundando a desigualdade. É importante que, além de melhor dividido entre homens e mulheres, o trabalho doméstico seja assumido pelo Estado, com a criação de novos equipamentos sociais (como lavanderias e restaurantes públicos) e a ampliação do acesso a creches públicas de qualidade, em período integral.
   Atualmente, apesar de ser uma determinação do Plano Nacional de Educação, faltam vagas e informações sobre a cobertura desse serviço no país – estima-se que 80% das crianças brasileiras nesta idade estejam sem esse atendimento. É preciso também garantir políticas anti-racistas como caminho para igualdade das mulheres negras e de todas as etnias discriminadas. Para isso, são necessárias políticas públicas que levem em consideração a exclusão das mulheres negras em relação à previdência, emprego e renda, creche e educação, saúde e moradia. É fundamental também garantir todos os direitos trabalhistas para as trabalhadoras domésticas, inclusive a jornada semanal de 40 horas e a obrigatoriedade do FGTS.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Associação de Mulheres Negras Cornélia da Conceição.




Como se iniciou a associação de mulheres negras cormélia da conceição?


No dia 20 do mês de Junho de 1929, no K41, São Mateus, ES. Nasceu a D. Cornélia.

   Nunca na vida de seus pais pudessem sonhar que mais tarde aquela criança poderia se tornar um exemplo de vida, força, coragem e determinação em defesa da vida de tantas mulheres. Ela se tornou para o povo oprimido, uma referência de fortaleza, guerreira e capacidade. Com sua determinação em defender os interesses e os direitos das lavadeiras e empregadas domésticas de são Mateus, dando àquelas mulheres a oportunidade de mudança de vida com suas próprias lutas.

   A Senhora Cornélia aos quatro anos de idade, era moradora do bairro Porto, filha única. E sua mãe D. Conceição, sem casa própria, sem trabalho fixo, sem salário digno..., passaram por muitas privações. É um quadro não muito diferente de muitos brasileiros.
   Mas cinqüenta anos depois, ela com 71 anos de idade relembra alguns fatos marcantes em sua vida. Não consegue disfarçar a lembrança de amarguras na sua infância, no Porto em São Mateus. Quando Diz:
   “Minha mãe trabalhou fazendo faxina numa casa; lavando roupa noutra e o tempo ia passando. Nós sofremos muito”. (Livro Mulher fonte de vida e esperança; p 125, 2001).

   Para o município um marco histórico, em 1979, a lavadeira Cornélia da conceição convida as amigas para uma reunião em sua casa, convida também as patroas. No início houve apoio da igreja católica, através das irmãs Maria, Ângela e Silvana. Nesse 1º encontro compareceram 140 lavadeiras e apenas 02 patroas. Mas as mulheres não desanimaram. Nesse encontro começaram as discussões de suas necessidades, pois eram muito castigadas, trabalhavam muito e ganhavam pouco, nessa época, nem se falavam em carteira assinada. Mas a partir desse encontro teve a idéia de criar uma associação, a ALED – Associação de Lavadeiras e Empregadas Domésticas. Começaram com a participação das lavadeiras. Todavia, com a atitude tomada  começaram a faltar roupas para lavar.
   As patroas começaram a bater de frente, sobrecarregando suas empregadas domésticas. E as lavadeiras sem trabalho e sem o pouco que ganhavam. E descobriram algumas lavadeiras ou domesticas que por medo de suas patroas aceitavam a exploração. Mas ao descobrirem essas mulheres que não faziam parte da ALED. Elas foram abordadas por mulheres do grupo e foi ai que aconteceu de até tirarem trouxa de roupa da cabeça de muitas mulheres. E convidaram as empregadas domésticas a fazerem parte dessa associação.  Com muita garra e determinação, D. Cornélia, juntamente com outras mulheres do grupo, foram edificando este projeto de vida para mulheres, inicialmente no bairro Ideal (ou Comunidade de Fátima) e mais tarde por todo São Mateus.
    E a fama do grupo foi se espalhando e foram chegando convites para palestrar em toda região: Ecoporanga, Pinheiros, São Gabriel da Palha, Barra de São Francisco, Nova Venécia e até em município do estado do Rio de Janeiro. O grupo tem muito orgulho, pois a conferencista da época era uma senhora negra e humilde e muito sábia, que estudou até a 4ª série primária. Com suas dificuldades, Ela  sentia tremura nas pernas, frio na barriga, mas orientava àquelas mulheres sobre a importância de se organizarem e buscarem seus direitos. Ela participava ativamente de outros movimentos populares em prol da dignidade e em defesa dos direitos básicos dos mais necessitados.
   Esta líder comunitária se juntou aos favelados que moravam no Porto,nos anos 80,onde houve dois (2) grandes movimentos de ocupação do local, hoje conhecido na cidade como bairro da Aviação e bairro Cacique. Sendo que na época, ouve o apoio do padre Fernando a esses ocupantes.
   Com sua participação direta nesses movimentos populares ela ganhou muitos inimigos. Que buscavam calar a voz profética daquela mulher negra que fazia engrossar cada vez mais o grupo.
   Assim sendo em 1982 houve uma greve geral em todo país, a ALED tinha que contribuir com o movimento e lá estava D. Cornélia na BR 101, no trevo do Ribeirão. Com a chegada da polícia foram detidos; a D. Cornélia e Maria José – membro do sindicato dos trabalhadores Rurais, juntamente com outros manifestantes.  Afirma indignada e revela que muitos desejavam uma  prisão que fosse para sempre. Seus dez filhos ficaram desesperados. E após 30 horas foram liberados. Tudo isso serviu para divulgar o trabalho do grupo e fez com que a ideologia do grupo fosse mais longe.
   Mas as perseguições foram muitas e cada vez mais acirradas. As lavadeiras e empregadas domésticas sofreram muitas ameaças. Mediante tanta pressão a forte líder sofreu um princípio de infarto, a caminho de uma das reuniões. Sendo obrigada a reduzir seus passos na sua dura jornada. Algumas lavadeiras e empregadas não resistiram e abandonaram a ALED. Mesmo doente ela articulou com aquelas que ainda permaneciam e a associação se transformou no “grupo de mulheres de Fátima”, coordenado pela mesma e mais três mulheres: Teodora, Cristina e Josefa.

   Trabalhavam com temas polêmicos como aborto, violência doméstica, orientação ao INSS etc. Dando também orientações aos usuários de álcool (alcoolista) depois encaminhado ao grupo de Alcoólicos anônimos da cidade local.
   Militante do partido dos trabalhadores a D. Cornélia se candidatou a vereadora, por duas (2) vezes, não conseguindo se eleger. A maioria, quase absoluta, dos que controlam o poder público são homens. Reflexos de uma sociedade conservadora e machista. Uma mulher forte, que não se deixou abalar pelas desavenças da vida.
  "O que a deixava mais triste era a falta de coragem em se
 organizarem em seu próprio benefício".
   Com o objetivo de formar mulheres conhecedoras de seus direitos, deu início com sua simplicidade e competência e pôde com muita sabedoria, desenvolver um trabalho que ficou na História do município. Com seu falecimento, outras mulheres negras assumiram a coordenação, documentando em registro no ano de 2006/2007, batizando com o nome de Associação de Mulheres Negras Cornélia da Conceição.
    Apesar dos avanços e conquistas, as mulheres continuam enfrentando, em sua vida cotidiano, desafios tais como:
   Discriminação em geral, no mercado de trabalho, desigualdade de oportunidade, dificuldade de se profissionalizar, dificuldade de se relacionar com melhores cargos ou cargos políticos. A professora  Olindina, coordenadora do grupo, ressaltou  a importância de valorizar também os idosos que são a história viva da sociedade e que é a realidade do grupo.
   É um grupo de mais ou menos 60 mulheres, mas que assim como qualquer outro grupo, oscila muito. E no momento se encontra sem local, pois estava funcionando na sede da associação de moradores do bairro Sernamby, mas por intolerância dos mesmos, estão sem local.
   O grande desejo de conquista é voltar aos encontros de formação e informação, bordados em tecidos, tela, banda e outras oficinas, como trabalhar a saúde da mulher, alimentação alternativa e outros temas. Mas para tudo isso voltar acontecer precisam de um local.
   Esses são os grandes desafios do grupo.
   Para a professora Olindina Serafim Nascimento debater sobre a desigualdade de gênero e raça possibilita reflexões /criticidades e visibilidade para que a própria mulher negra se aceite e realize grandes conquistas, considerando seu mestrado uma grande realização.
   Outra questão levantada e preocupante é que a mulher discrimina a própria mulher, devido o reflexo da cultura machista e patriarcal que permeia o tecido social, um desafio a ser enfrentado por toda a classe trabalhadora.  E debatendo o assunto dará condição de em outros espaços ter oportunidade de transformar a realidade vivenciada em uma nova construção histórica com mais inclusão, equidade, igualdade e justiça social, para isso temos que ter políticas afirmativas, que são aquelas voltadas a corrigir desigualdade, oferecendo o diferencial, eliminando as desvantagens existentes que exclui e descrimina e que são mantidas na sociedade e no grupo.
    O grupo coloca a importância de algumas ações já conquistadas como: Representante nos conselhos da mulher e de assistência. Encontramos-nos em desvantagem com a representação da mulher nos espaços de poder, e precisamos de mais empoderamento da mulher no poder.  
   Algumas mulheres citaram como exemplo várias passagens das novelas da rede globo, onde o racismo cotidiano consiste em formas freqüentes de comportamento e atitudes que, apesar de não serem agressivas ou abertas, demonstra desrespeito, marginalização e humilhação a grupos específicos, como mulheres ou negros. Em que os personagens negros só conseguem papeis inferiores, ou mesmo discriminatórios.
    É questionado um assunto que ouviram em palestras com a coordenadora nacional dos grupos afros descendentes que refletiam dizendo:
   "Que, as mulheres negras estão ficando cada vez mais sozinhas. Pois o homem negro se sobre sai na sociedade, e busca se casar com mulheres brancas para ser aceito na sociedade burguesa. Em especial se vêem os jogadores, pagodeiros e outros. Por isso a importância da discussão. A sociedade precisa ser emancipada, o trabalho do homem sempre foi mais valorizado que o trabalho da mulher. Existe uma disparidade no nível intelectual entre negros (as) e brancos (as)".
São Mateus é o município com a maior população afro descendente do Espírito Santo. Isso se deve ao fato de o local ter sediado um dos principais portos e importantes casas de comércio de negros do Brasil, que funcionaram desde a chegada dos primeiros navios negreiros no século XVI até praticamente o final do século XIX.



GRUPO DE MULHERES NEGRAS CORNÉLIA DA CONCEIÇÃO.(O. S.N)